Dívida pública interna sob pressão alta

Dívida pública interna sob pressão alta

Há pelo menos três anos, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) tem vindo a alertar sobre o agravamento da dívida pública interna contraída pelo Governo em nome do Estado moçambicano. Os alertas do regulador do sistema financeiro são tantos e consecutivos, mas, mesmo assim, o Executivo parece estar a ignorar, subindo cada vez mais os níveis de endividamento público interno, apesar dos riscos associados.

Recentemente, durante uma conferência de imprensa em Maputo, o Comité de Política Monetária do banco central (CPMO), na voz do próprio governador da instituição financeira, Rogério Zandamela, reiterou a preocupação. Ele afirmou: “A pressão sobre o endividamento público interno mantém-se elevada” e destacou que o Governo está ciente e a trabalhar para normalizar o problema desse endividamento.

Para contextualizar, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, a dívida situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, representando um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023.

O governador enfatizou que não é por casualidade que eles alertam. Riscos são riscos, e se o tomador desta dívida tiver dificuldades em honrar esses compromissos, por razões de caixa ou de solvência, surgem problemas. Até o momento, Moçambique não enfrenta uma situação de incumprimento, mas é crucial permanecer vigilante para evitar cair na armadilha que outros países, incluindo nações africanas, já experimentaram. Como exemplificou Zandamela, em alguns casos, o tomador do crédito enfrenta dificuldades e os credores não conseguem recuperar o dinheiro emprestado.

A situação em que o tomador de crédito (neste caso, o Estado) não consegue honrar seus compromissos pode criar um problema sistêmico, que vai além do Governo.

O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) tem alertado consistentemente sobre essa questão, destacando que não se trata apenas de um problema fiscal, mas também financeiro. Eles conectam esses aspectos em seus relatórios de estabilidade financeira.

Dado o relacionamento privilegiado entre o Banco de Moçambique e o Governo, questionou-se o que tem sido feito para reverter essa situação antiga. O governador, Rogério Zandamela, explicou que a questão da dívida não é trivial na solução, pois depende de dois fatores: o numerador e o denominador.

Para resolver isso, a economia precisa crescer e gerar mais receitas, de modo que o denominador (que condiciona o numerador) seja menos restritivo. No entanto, esse processo leva tempo e não acontece da noite para o dia. Zandamela preferiu não fornecer números específicos, deixando essa tarefa para o ministro das Finanças.

É importante lembrar que o endividamento em si não é um problema. É normal que famílias, empresas e até o Estado busquem dinheiro no sistema financeiro. A questão crucial é se estamos utilizando adequadamente os fundos obtidos por meio da dívida. Essa é uma pergunta que o ministro das Finanças, Max Tonela, deve responder.

Em última análise, o endividamento do Estado para investir em infraestrutura e melhorar a capacidade econômica é uma prática comum. Afinal, a dívida de hoje será paga amanhã .

De fato, um cenário diferente pode se desenrolar quando o endividamento ocorre por motivos de consumo, pagamento de salários ou despesas correntes. Nesse caso, estamos diante de um ciclo distinto, como apontou Rogério Zandamela, governador do banco central, durante a conferência de imprensa do Comité de Política Monetária.

Quanto ao nível ideal de endividamento público interno que o Governo deve respeitar, Zandamela foi cauteloso em sua resposta. Ele sugeriu que essa pergunta fosse direcionada ao ministro das Finanças, pois embora os países possam ter números semelhantes, isso não significa que enfrentem os mesmos problemas de endividamento. A situação depende de como os recursos foram utilizados.

Além disso, o endividamento público interno traz consigo o risco de o Estado competir pela mesma fonte de financiamento com famílias e empresas, o que pode encarecer o crédito na economia.

No período de janeiro a outubro do ano passado, o endividamento público interno aumentou em cerca de 52 mil milhões de Meticais (equivalente a aproximadamente 806,7 milhões de dólares), conforme mencionado por Zandamela no final do ano .

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